Sentada num hall entre os elevadores e a escada, atrás
portas direita e esquerda onde se entra vivo a direita a uma recuperação e a outra
a esquerda se saí morto para o necrotério, localizado no meio das duas alas do lado
direito quartos pares e do lado esquerdo os quartos impares, somos sentados
cinco, num conjunto de sofás muito usado, cada um com sua aflição, no meu colo
o evangelho aberto nas preces guardiãs, na minha cabeça a repetição se faz
presente, rondo com olhar assustado quando uma porta se abre uma hora e meia
após sua partida , assim descubro que aquela
era a porta da morte.
De repente fico sozinha, estremeço ainda mais, eu não
tenho nem com quem chorar a luz se apaga, as mãos apertam o evangelho e quero
perguntar, mas se eu conseguisse seria genial, passa alguém rápido, como uma
espécie diferente de mim, desce do elevador duas mulheres e um homem, uma
mulher chora compulsivamente, entre uma palavra e outra percebo que a mãe dela faleceu , eu já aliviada tento confortá-la adequadamente, logo após vem o médico o chefe da
equipe dar explicações inexplicáveis, tentando justificar o valor absurdo que momentos
antes eu ouvi o real da família o quanto foi cobrado, Instante depois saíram
todos dali sem me perguntar por que estava ali.
Sozinha resolvo me aconchegar no quarto aonde aguardamos
juntas e soube pela nova ocupante do quarto que eu deveria pegar tudo da gente
e se virar em algum canto daquele imenso... Lugar, porque o momento seguinte é desconhecido...
Com um peso absurdo, largada pelo prédio, teria que ficar acordada pra guardar
a sobra de nós.Perdi o tempo de espera do hall, volta encontro novas pessoas ,
com o evangelho amarrotado e aquele monte de coisas permaneço ali olhando ,
rezando, vasculhando por entre as medidas humanas quem poderia amar mais do que eu.
Sem perceber estava entrando num redemoinho de
comparações egoístas, até nessa hora notei que sofria tudo e só meu. Quando
anoiteceu delirei, chorava desesperadamente , quando vi o anjo Rosa, pedi
implorei, até que me trouxe a notícia fantástica da sua recuperação, contou-me
do seu olhar ainda turvo, sorri chorando , beijando a face da Rosa.
Devagar flutuando vou para o bar mais próximo relaxar na
bagagem, eu estarei numa espécie de guarda volumes, no bar ligo pra um, pra
outro dando as boas novas, já que não tenho onde dormir vou ficando por aqui
até o bar fechar pois a capela já estava
fechada, afinal que diferença faz se estou sozinha mesmo e posso
orar em qualquer lugar.
Sob frio intenso tentei me esticar no sofazão gostoso do
Hall do edifício central, mas o segurança não dava mole. Entre um chamamento e
outro passei a noite. De manhã cedo acordada e ressacada, empolgava-me nos
preparos da minha visita, tomei até um banho na pensão ao lado paguei caro mais
valeu à pena, tive o cuidado de me lavar com sabonete de glicerina neutro isso
pra não incomodar ninguém muito menos você. Ah! ... Se eu pudesse levaria uma flor
do campo. Com certeza não faltará oportunidade.
Acredite se quiser eu nunca lhe dei essa flor do campo,
acho que porque teria disponível os
campos do Mundo se quisesse.
Agora sentada de costas para a porta da saída de vida recuperada,
continuo com o evangelho nas mãos, um monte de gente acumulada no hall esperando
o chamamento para a entrada de visitas, eu tremia de emoção mal cabiam na minha
boca as palavras que queria lhe dizer, na tentativa de me controlar respirava fundo,
sentada, enquanto muitos outros em pé desassossegados.
Faminta, pois só agora pensei que nada ingeri a não ser
vigília, somente depois da visita, já pensava em comer tudo que estivesse ao
meu alcance.
Muitos são chamados
e eu, continuo ali imóvel, achando que alguém pode me prejudicar se eu
perturbar o ambiente tem sempre esse tipo de sentimento comigo, meio assim:
tenho que reverenciar sempre, exigir nunca e o medo do abandono.
Pra você ter uma idéia eu nasci e não reivindiquei meus direitos
como qualquer pessoa normal , escondi meus sentimentos e a minha querida nas festas da família não
deveria ir e quando nos jantares de negócios quase surtava por não ter
você comigo , nos encontros no clube da fábrica nos finais de ano nem pensar ; o que iriam fazer comigo durante o ano novo .Deixando
o passado no passado, com razão ; que
fique na boate “Ultimo Tango”, anos 70, século XX e que belo passado onde
me escondia da sociedade normal pra
poder dançar e namorar e corria o risco
de morrer clandestinamente por balas do
grupo de extermínio do coronel “Erasmo
Dias”, e ele foi enterrado no XXI, como
respeitado militar do Exército, historiador e político brasileiro, há ! - antes
ele do que eu.
Barulho forte me arrepia, viro-me depois de uma sensação
de estar sendo observada; é uma maca, levanto-me subitamente a vejo de soslaio rapidamente
por dois homens de branco e conduzida para o elevador.
-Pra onde está indo?
-Um homem de branco sussurra um número.
Motivada ou uma forte intuição começo a descer os degraus
da escada tentando chegar antes do elevador e cheguei, é incrível deu pra ver a
porta do quarto onde continha uma placa denominada: “isolamento”; eu mal curti o
seu retorno e comecei a pensar sobre o título, lembro-me olhei para os seus
olhos e percebi o quando você sofreu nas ultimas vinte e quatro horas. Tentava
me manter firme e não mostrar fragilidade em observar o tamanho do corte em colo seu seio.
Entrei na libido sem querer, mas foi sorrateiramente me
envolvendo , deixou-me cair em volúpia, sei bem que não é o momento e o que
fazer com tanto desejo de você? - uma mistura
de mãe e amante, uma culpa me fixou e permaneci atormentada.
Arrebatada com um egoísmo peculiar, entre o querer e o
desejo real, perplexa no sentimento de posse, pois somente agora você me pertencia,
meu olhar pra você era o todo, perdoe-me por ter, contudo aborrecido o Mundo ao
seu redor.
-como pude ser tão perversa se você voltava pra mim? - voltava
sim de uma séria cirurgia...
Quando me culpo só faço merda, foi sempre assim, esse
sentimento parece me conduzir pro labirinto esquisito de péssimas recordações e
fecha o livro da leitura diferenciada, sem querer auto-ajuda, mas sim uma Lia Luft
ou Nélida Pinõn; ou melhor, preciso de uma literatura independente de sexo, mas
que aponte uma saída para esse sentimento misturado de maternidade nessa situação
delicada e uma volúpia apaixonante de ser sua amante.
Nada encontro nem abraço amigo, nem troca de olhares, nem
uma palavra sequer de fortalecimento, todos me ignoram e só desejam saber do
tamanho do corte entre seus seios. Ficará uma companhia? - Sequer dirá meu nome
ou me mandará dormir em paz.
Nem procurada por médico ou enfermeira, quando um queria
me dispensar dizia atropelando as palavras: - é minha filha, e quanto ao olhar
desconfiado respondia afirmativamente: é adotiva.
Meu Deus o que estive fazendo de mim até aqui?
- Eu falsa até nessa hora! - Especulando meu intimo um
signo que demonstre um pouco de realidade e diante de mim apenas você que me
olha com dúvida e não como namorada.
Imagina... Hoje tem
deputado federal assumido, judiciário propondo a união civil e seus direitos
sociais, casais adotando crianças. - ah que ponto chegou? –aumento da agressão
e o número de mortes, a discussão nas escolas ainda permeia pela exclusão,
todos são especialistas em comentar e consideram-se vitimas para compreender.
Meu amor! - eu e você estamos indo de volta pra casa,
inicia-se um processo de desconfiança de ambas; você acredita em ligações
absurdas minha, eu na presença solidária me torno dona do trono. Vamos-nos
complicando um pouco mais, a cada dia, a cada visita, a cada surpresa de minha irmã
de seus filhos e do esperto pai dos filhos. Ninguém escuta, nem quer saber, mais
ou menos entre linhas ditas: virem-se, vocês se escolheram então toma o que é
teu com prazer.
Segui sabendo que minha obrigação era de cuidar,
preservar, engordar e fui
desesperadamente cozinhando
,alimentando, comprando , acontecendo,
estressando-me, não tive controle do controle , a casa era minha sua, sua minha
, invertendo os cuidados em curativos ...e um dia paramos diante da
passarela do lago da praça e...
surtamos! - eu quebrei meus novos óculos ray-ban com graus, você logo após num
desmaio inventado de novela nos levou de volta ao hospital. Porra meu! - o que
fizemos do nosso amor? –ele que começou bonito partindo do seu sonho de um
beijo roubado; e a uma pequena distração genuína abobalhada minha; pronto, bati
o carro.
E eu que jurava poder ensinar seus filhos, história,
geografia e química, nunca passei além da marchinha preconceituosa de carnaval
, “Maria Sapatão “. Depois como se não bastasse ainda saímos uma de cada lado
fazendo desaforos em forma de retratos,
versos e comunidades virtuais, no MSN
nem me fale?- o quanto me contaminei da época de “deuses e de diabos ”, encarnei ambos ao mesmo
tempo, mordendo e assoprando.
Suas férias embutida num frasco de cristal, solene e
amparada por cartões de crédito com meu Código de Pessoa Física, que a justiça seja feita : tu és poderosa diante de mim.
Não adiantou sentirmos saudades e fracassou fazendo o mesmo trajeto das férias
anterior o fim previsto se anunciava na virada do ano, entre falciformes, fogos
e rabanadas, talhos com sete pontos nas
cabeças de cima para baixo, à sustentação de tipos excêntricos.
Exclamando no celular: Querido não conte nada para o
papai o que houve!- depois ... a mamãe explica.
Ocorreu-me uma coisa agora depois de tanto tempo; que a
mamãe explicou... O incompreensível
Eu até hoje permaneço no obscurantismo em se tratando de
sexo e afirmo: se alguém tem certeza de sua orientação sexual ao se deparar com
a diversidade sente-se ameaçado e agride.
Ainda bem que vivo uma alucinante forma de onipotência
pelo vício e a cada queda levanto –me
aperfeiçoada na forma de ceder, jamais jejuar
sou efervescente manobro enquanto eu puder escolher , porque tem gente
que acha que pessoa assim como eu não escolhe, engano seu, nêgo !
Hoje passo o dia orando para meu anjo de guarda para não
cair nas armadilhas do coração que tenta a cada lance do meu sucesso impor-me
delírios de mãe, avó, amante, sei lá, uma sede do principio de alcovitice.
De vez em quando pergunto pra pessoas em que posso
ajudar? –
Gostaria que todos nós copiássemos o costume oriental,
também não tenho certeza que perdure com tantas modificações na maneira de
vida, mas é assim: “quando se vai visitar alguém seja parente ou amigo doente, na
saída deixe um envelope sobre a mesa da casa com uma quantia em espécie para
colaborar com os gastos da família ou da própria pessoa enferma, pois nessa
hora todo mundo esta com a necessidade de pagar uma conta para logo em seguida
fazer outra, são dificuldades semelhantes a todo mundo desde o mais rico até o
mais pobre” eu já estive em situação de necessidade extrema para adquirir um
medicamento para o tratamento e uma pessoa da família para o doente trouxe
bolachas do 1,99 e umas frutas meio passadas e pra mim a cuidadora uma caneta
de ultima geração que ascende até luzinha, passou todo tempo contando vantagens , depois, virou-se
e foi embora!- com o firme propósito de
voltar.
Preservando a raça quero mover fundo apocalíptico,
estarei nessa geração de famintos de solidariedade e o resto virá acompanhando
harmoniosamente a humanidade cristã, meu exagero é penalizado por você meu
grande amor que é o meu eterno envolvimento à
um futuro com uma outra visão.
Simplesmente desconhecemos o combinado...
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